quinta-feira, 23 de julho de 2015

"Dignidade exemplar" por Vaz Craveiro.


O último sábado viu as portas do centenário recinto taurino da praia da claridade abrirem-se para uma corrida de gala à antiga portuguesa comemorativa dos 120 anos de idade, organizada pela dinâmica e aficionada empresa Tauroleve, que empresta às suas realizações a garantia da seriedade e do bom gosto, com cartéis diversificados que vão ao encontro das várias sensibilidades existentes no mundillo, espectadores veraneantes e acidentais incluídos. Rompeu praça o consagrado JOAQUIM BASTINHAS, segundo mais antigo dos cavaleiros de alternativa que se encontram no activo de forma regular e sistemática e que teve de se haver, como os seus pares, com um adversário oriundo da herdade do Pedrógão, o qual, na linha dos hastados que, ultimamente, Lhe couberam em sorte (Póvoa de Varzim e Tomar) se não prestou ao luzimento do valoroso Artista, que, por isso mesmo, o mimoseou com a lide possível, não com aquela que estava ao Seu alcance, se outras fossem as características do oponente saído do sorteio. Ora, uma vez consumada a pega respectiva, o inteligente entendeu permitir a volta ao redondel do ginete alentejano. Este, porém, uma vez transpostas as tábuas foi aos médios cumprimentando e saudando, para, de seguida, regressar à trincheira, desse modo não aceitando o prémio que Lhe fôra outorgado. Em nada nos surpreendeu o significativo gesto do elvense, hoje por hoje, uma referência da Sua profissão e, assim, exemplo a seguir pelas gerações seguintes. Somos do tempo, o que está documentado em publicações da especialidade, de os cavaleiros viajarem à boleia do êxito dos forcados para a volta de consagração e de os toiros serem mal colocados pelo peão para a pega a fim de que não houvesse triunfo algum, desse modo se nivelando o cavaleiro mal sucedido e o forcado com igual sorte, sem vencedores nem vencidos. Joaquim Bastinhas passa ao lado de todas essas habilidades, com uma longa carreira bem-sucedida, figura do toureio que, indiscutivelmente, continua a ser. Consequentemente, se a lide o justificou, parte, satisfeito, para o prémio que mereceu, tendo havido toiro a quem ministrou a receita que se impunha. Quando não, como agora na Figueira da Foz, não embarca em folclorismos, por ter um nome e uma carreira a defender e por haver sempre um amanhã em tão ingente profissão, que o aleatório da composição dos lotes nem sempre está de espaldas para as justas expectativas dos intervenientes. É caso até para recordar a analogia com o génio de la Puebla, José António Morante de seu nome, sem qualquer problema em abreviar, uma vez reveladas as deficientes condições dos morlacos, por nenhum outro comportamento, na circunstância, se justificar. A recusa da volta à arena concedida não obstaculizou a que Joaquim Manuel continuasse envolvido pelo carinho do público no final do espectáculo, como, de resto, antes do seu início e durante aquele, nas cortesias, logo a abrir e, depois, enquanto actuou, com o pedido do habitual par de bandarilhas, que as características do inimigo desaconselhavam, pelo que não houve um tal remate.Em conclusão, o gesto em causa do veterano cavaleiro integra o didactismo que deve estar presente numa corrida de toiros, ensinando o respeitável e servindo de paradigma aos outros toureiros, o que, por isso mesmo, se saúda e aqui se regista com satisfação. 

                                                                                                                        Vaz Craveiro