Joaquim Bastinhas: uma vida dedicada ao toureio
Joaquim Manuel Carvalho Tenório, conhecido por todos como Joaquim Bastinhas, nasceu em Elvas no dia 8 de Março de 1956. Filho de Sebastião e Gertrudes Tenório, repartiu a sua infância entre Rua dos Frades, onde se situa ainda hoje a casa de seus pais e o Monte da Chaminé que o seu pai trazia, fazendo a exploração agrícola e pecuária do mesmo.
Joaquim Manuel frequentou a escola primária da Boa Fé, tendo mais tarde após concluída a 4ª classe, ingressado no Colégio Luso-Britânico. Os dias passados no Monte, permitiam-lhe o contacto com os cavalos, porque o seu pai como grande aficionado e em tempos cavaleiro amador, sempre manteve e criou estes animais. Daí ter começado a montar aos 5 anos de idade, vindo a acompanhar pouco tempo depois o seu pai, nas voltas pelo Monte e nas batidas ás lebres com galgos, dos quais se tornou adepto. Entretanto em 18 de Fevereiro de 1969, com 13 anos de idade, debuta na praça de toiros do Campo Pequeno, aí fazendo a sua estreia em público, num festejo de Carnaval, dando nessa tarde inicio a uma carreira que se estende até aos dias de hoje, passados que são já 45 anos sobre essa tarde, ocupando um lugar destacado como primeira figura do toureio a cavalo e Maestro consagrado. Após a sua estreia na praça da capital, Joaquim Bastinhas, assim se fez anunciar, adoptando o sobrenome por que seu pai e o seu avô Matias eram conhecidos, vai estudar para a escola agrícola de Évora, onde consegue ir participando nalgumas garraiadas da escola. No entanto a sua ambição era maior e daí, começa a tourear sempre que pode, em todos os festejos populares da região, atravessando mesmo a fronteira, para tourear em muitas praças de “pueblo” da Estremadura espanhola. Assim se vai forjando no toureio Joaquim Bastinhas, com a ajuda de seu pai, “que vê nele o toureiro que ele próprio não pôde ser”. Focado essencialmente no toureio, Joaquim Bastinhas vai deixando ficar os estudos para trás.
Mas nas arenas o seu valor é notório. Valor no qual seu pai acreditou, tornando-se no seu primeiro e principal apoiante. As actuações são cada vez mais constante e a popularidade do jovem cavaleiro amador Joaquim Bastinhas, começa também a despontar, o que nem foi difícil, face á sua eterna personalidade jovial, simpática, alegre e irreverente (qb).
Assim em 9 de Setembro de 1979 na praça de Vila Viçosa, Joaquim Bastinhas presta provas para cavaleiro praticante, integrado num cartel com David Ribeiro Telles, Sommer de Andrade, João Telles e António Telles frente a toiros de diversas ganadarias a concurso.
Mais determinado que nunca, a tornar-se profissional do toureio, recebe a alternativa na tarde de 15 de Maio de 1983, na tradicional corrida concurso de ganadarias de Évora. Praça cheia, com muitos amigos e admiradores do jovem cavaleiro de Elvas, pois assim já era tratado pela imprensa, que recebe das mãos do seu ídolo de sempre: José Mestre Baptista, o ferro do doutoramento, tendo como testemunha João Moura, tendo lidado um toiro da ganadaria “Branco Núncio”.
Após a alternativa é contratado para actuar (cerca de mês e meio depois) a 14 de Julho de 1983 na primeira praça do País, o Campo Pequeno, e aí fazer a confirmação da mesma. Foi seu padrinho João Ribeiro Telles e testemunha Paulo Caetano lidando-se toiros de "António José Teixeira". Com um toureio muito próprio, baseado no valor, entrega e raça, atributos inerentes há sua própria personalidade, tendo como assinatura pessoal o par de bandarilhas, Joaquim Bastinhas rapidamente se impõe entre os seus colegas, ganhando o seu espaço, levando publico ás praças, o que leva a que seja o cavaleiro que mais toureie, ou dos que mais toureie todas as temporadas, marcando definitivamente uma posição, há qual não são alheios os inúmeros troféus que vai conquistando, entre os quais se destacam os da Corrida da Rádio, Feira Taurina da Moita, R. Renascença, Sector 1, T.T. Setubalense, “Comboios de Cristal”, Tertúlia Tauromáquica Terceirense, Globo de Ouro da SIC etc.
Como figura Joaquim Bastinhas não limita a sua carreira apenas a Portugal. Tal como todos os grandes artistas e grandes toureiros, Joaquim Bastinhas levou a sua tauromaquia, representando Portugal e a cidade de Elvas, por toda a geografia taurina mundial, pisando as arenas dos maiores palcos mundiais do toureio, ai deixando constância do seu toureio e bem presente, a classe da arte de marialva, assim como a alegria e simpatia de um povo, personificada por si, junto dos públicos e aficionados de Espanha, França, Grécia, Macau, México e Venezuela.
Marcos Bastinhas: Campo Pequeno 10 de Julho 2008 |
Alternativas concedidas: João Carlos Pamplona, Angra do Heroísmo, 24 de Junho de 1984. Antonio Ventura, Campo Pequeno 29 de Maio de 1986. Baptista Duarte, Tomar 11 de Agosto 1989. Jorge d´Ourique, Campo Pequeno 24 de Agosto 1989. Nuno Pardal, Campo Pequeno 4 de Julho de 1991. Tito Semedo, Beja 10 de Agosto de 1993. Carlos Miguel, Moita do Ribatejo, 14 de Setembro de 1995. José Soudo, Evora 29 de Junho 1996. Cláudio Travessa, Salvaterra de Magos 30 de Agosto 1998. Jason Palma, Caldas da Rainha 1 de Julho 2000. Ana Baptista, Coruche 8 de Julho 2000. Rui Santos, Povoa do Varzim 22 de Julho 2001. João Carlos Folgado, Portalegre 27 de Junho de 2003. Gilberto Filipe, Montijo 28 de Junho de 2004. Miguel Duarte, Caldas da Rainha 5 de Setembro de 2005. Tiago Pamplona, Angra do Heroísmo 17 de Junho de 2006. Gaston Santos, Campo Pequeno 19 de Julho de 2007. Marcos Bastinhas, Campo Pequeno 10 de Julho de 2008. Tiago Carreiras, Campo Pequeno 6 de Maio de 2010. João Maria Branco, Campo Pequeno 16 de Maio de 2013. Mateus Prieto, Santarém 1 de Junho de 2013. José Carlos Portugal, Povoa do Varzim 7 de Agosto de 2014. Filipe Ferreira, Caldas da Rainha 5 de Outubro 2014.
A aficion da família Bastinhas não se limita apenas ao toureio. A agricultura, os cavalos e o toureio são actividades diárias, no Monte das Algramassas Daí que Helena Nabeiro Tenório, grande entusiasta do cavalo, tendo inclusivamente participado entre 1987 e 1990 em provas do campeonato nacional, na modalidade de raids hípicos, tenha adquirido no ano de 2000, um grupo de éguas de raça lusitana, procedentes das coudelarias “Sommer de Andrade”, “Ortigão Costa” e “Viscondessa dos Olivais”, fundando a coudelaria “Helena Nabeiro Tenório”, que ostenta o ferro de seu sogro Sebastião Tenório e pasta no “Monte de Belver”. Os garanhões utilizados são o “Queimadoro” ferro “Ortigão Costa” e o “Nilo” com ferro “Pinto Barreiros”, dois Puro-sangue Lusitanos, da quadra de toureio de Joaquim e Marcos Tenório Bastinhas, premiados pela APSL como os melhores cavalos lusitanos de toureio nas temporadas de 2006 e 2014. Na actualidade, a coudelaria conta com um efectivo de 12 éguas de ventre ostentando na sua maioria o ferro da coudelaria “Helena Nabeiro Tenório”. A tourear neste momento, tem esta coudelaria os: “Cartier”, "Ellora", "Eneias" e "Faraó", nas quadras de Joaquim Bastinhas e Marcos Tenorio.
Joaquim Bastinhas toureou pela primeira vez na praça de toiros do Campo Pequeno na tarde de 2 de Fevereiro de 1969, contava então 13 anos de idade. Dai até há alternativa voltou á praça da capital para actuar em mais 11 festejos, 6 como amador e 4 como cavaleiro praticante. Após a alternativa, a 15 de Maio de 1983 em Évora, confirma a mesma no Campo Pequeno a 14 de Julho, iniciando assim um percurso taurino como cavaleiro tauromáquico de 30 anos, estando presente em todas as temporadas da praça lisboeta, a mais importante do mundo para o toureio a cavalo. Na praça de toiros do Campo Pequeno, Joaquim Bastinhas, até ao final da passada temporada de 2013, actuou em 100 espectáculos. Bastinhas é neste momento o cavaleiro de alternativa no activo, que entre festivais e corridas de toiros, mais actuações soma na arena da praça de toiros da Capital: 111 espectáculos: 101 como profissional e 11 entre as categorias de amador e praticante.
Temporada
|
Corridas
|
Temporada
|
Corridas
|
Temporada
|
Corridas
|
Temporada
|
Corridas
|
1983
|
3
|
1991
|
5
|
1999
|
2
|
2007
|
3
|
1984
|
4
|
1992
|
4
|
2000
|
0
|
2008
|
2
|
1985
|
5
|
1993
|
4
|
2001
|
0
|
2009
|
3
|
1986
|
4
|
1994
|
3
|
2002
|
0
|
2010
|
2
|
1987
|
6
|
1995
|
4
|
2003
|
0
|
2011
|
3
|
1988
|
9
|
1996
|
3
|
2004
|
0
|
2012
|
2
|
1989
|
11
|
1997
|
3
|
2005
|
0
|
2013
|
2
|
1990
|
7
|
1998
|
3
|
2006
|
2
|
2014
|
2
|
Joaquim Bastinhas ao longo dos seus 30 anos de carreira e 45 de toureio, durante muitas temporadas foi o cavaleiro tauromáquico que mais contratos somou, levando um numero de toiros lidados assinalável. Uma das ganadarias portuguesas que mais hastados toureou, foram os da prestigiada e respeitada divisa eborense, do Eng. Joaquim Murteira Grave, sendo Joaquim Bastinhas o toureiro, que mais “Graves” leva lidados em toda a história do toureio: 113, até ao final da temporada de 2012.
Temporada
|
Graves
|
Temporada
|
Graves
|
Temporada
|
Graves
|
1982
|
2
|
1992
|
1
|
2002
|
5
|
1983
|
5
|
1993
|
1
|
2003
|
7
|
1984
|
11
|
1994
|
8
|
2004
|
3
|
1985
|
5
|
1995
|
2
|
2006
|
1
|
1986
|
1
|
1996
|
5
|
2007
|
1
|
1987
|
2
|
1997
|
7
|
2008
|
4
|
1988
|
3
|
1998
|
1
|
2009
|
6
|
1989
|
1
|
1999
|
2
|
2010
|
3
|
1990
|
5
|
2000
|
7
|
2011
|
2
|
1991
|
3
|
2001
|
5
|
2012
|
4
|
Para um toureiro os troféus conquistados nas arenas ao longo da sua carreira, são um incentivo para temporada após temporada, continuar a demonstrar todo o poder e classe da sua arte, assim como uma recompensa, a todo o seu empenho e dedicação pela profissão. No entanto se um artista ganha o respeito e simpatia do público nas arenas, é também fora das arenas, um cidadão com responsabilidades perante a sociedade. Joaquim Bastinhas ao longo da sua vida, tem sido exemplo disso mesmo, disponibilizando-se sempre que é necessário, a participar em festivais e outras organizações a favor dos mais desprotegidos. Daí as diversas homenagens que lhe têm sido prestadas ao longo dos anos. Desde a União das Misericórdias de Portugal, que a 28 de Julho de 2013 em Santarém, decidiu distingui-lo com a medalha e diploma desta instituição, pelos serviços prestados em prol da mesma, há sua cidade de Elvas, onde em 25 Setembro 2013, recebeu a Medalha de Oiro da Cidade e do Concelho, assim como a atribuição do seu nome a uma das ruas da cidade. Tudo isto faz parte do reconhecimento, pelo seu caracter solidário, o qual, Joaquim Bastinhas tem patenteado ao longo da sua vida, como cidadão activo e responsável, na “arena” da vida. Daí que o cavaleiro de Elvas, cidade onde se orgulha ter nascido e sempre presente no seu espirito, assim como Portugal, tenha conquistado o respeito de todos. Joaquim Manuel Carvalho Tenório foi distinguido em 8 de Dezembro de 1987 com o Diploma de Honra da Cidade de Elvas, há atribuição das comendas da Imperial Ordem Hispânica de Carlos V (4 de Novembro de 2006), Real Irmandade de São Miguel da Ala (29 de Setembro de 2006), Irmão Benfeitor da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Elvas (13 de Maio 1988), Sócio Honorário da APPCDMA de Elvas (30 de Setembro de 2013) entre muitas outras, como as placas com o seu nome, descerradas em muitas praças de toiros de Portugal. Daí que Joaquim Bastinhas não seja apenas uma Figura do Toureio, mas também uma Figura da sociedade, como homem, empresário e agricultor de sucesso.
Perante a sua dilatada carreira como cavaleiro de alternativa, Joaquim Bastinhas ao longo das temporadas, tem vindo a alternar com todos os toureiros do momento, entre cavaleiros, rejoneadores e matadores de toiros. Não sendo um toureiro de pôr entraves aos colegas …” como profissional do toureio e tendo também eu trilhado um caminho, nem sempre fácil, para alcançar a posição que tenho enquanto toureiro, entendo que devemos dar oportunidades a todos aqueles que querem e sonham em sê-lo. Depois se as aproveitam ou não, apenas depende deles, do seu valor, arte e força de vontade, demonstrando em público e na arena frente aos toiros, o seu empenho, o que valem e o que podem diante de um toiro. Uma coisa tem que ter sempre em mente: o público é soberano e é quem nos julga como toureiros, aceitando-nos…ou não!”.Também por ter já somado e ultrapassado as 1700 actuações em praças dos diversos continentes: Europa (Portugal, Espanha, França, Grécia), América (Califórnia, México, Venezuela), Asia (Macau), aliás conforme se pode verificar no que foi descrito nos quadros anteriores, sucedendo mesmo, que há medida que se vai “inventariando” o imenso espólio do maestro de Elvas, surgem cartazes com o nome de mais e diferentes alternantes, assim como de praças de toiros, sendo exemplo disso mesmo as praças de toiros das localidades de: Vergeze, Rodilhan, Tarascon e Villeneuve de Marsan (França), ou Albuquerque, Huigera la Real, Talayuela, Don Benito, Valverde del Fresno, Navalmoral, Barcarrota, Zarza e Orgaz (Espanha). Com todo este palmarés Bastinhas já toureou com nomes como: Alvaro Domecq Romero, Manuel Vidrié, Angel e Rafael Peralta, Luis Valdenebro, A. Ignácio Vargas, Javier Buendia, Julia Jalviéri, Curro Bedoya, Cesar de la Fuente, Pedro Cardenas, Gines Cartajena, Alvaro Montes, Mariano Rojo, Sergio Vegas, Martin Arrans, Javier Mayoral, Miguel Garciaz, José Miguel Callejon, Luis e António Domecq, Leonardo Hernandez, Paco Ojeda, Fermim Bohorquez, Andy Cartagena, Pablo Hermozo de Mendoza, entre outros. Quanto a França já alternou até ao momento com: Jaques Bonnier, Luc Jalabert, Gerard Pellen, Patricia Pellen, e Maria Sara. Atravessando agora o Atlântico, Joaquim Bastinhas em praças do continente Americano, compartiu cartel (não só e apenas na América) com nomes como: Gerardo Trueba, Ramon Serrano, Dário Chica, José Correia, Felipe Vallina, Jorge Garate, Rodrigo Santos, Gaston Santos jr, Francisco J. Rodriguez, J. R. Gaona, José.Luis Rodriguez. Evidentemente quanto ao nosso País e aos seus colegas, Bastinhas refere-se nos seguintes termos:“ tenho a satisfação de poder afirmar que dividi cartel com todos os companheiros. Tantos os que eram figuras, ou nomes já firmados em 1983, o ano da minha alternativa…orgulho-me também de ter concedido já 21 alternativas. Acredito que todos têm direito a lutar pelos seus sonhos!”
Para além dos triunfos e de todo o brilho e notoriedade, que uma carreira artística de sucesso pode oferecer a um toureiro, também há momentos menos bons, que se traduzem por vezes nas colhidas… “é um risco inerente a este tipo de actividade ou profissão, onde a nossa arte ou a raça e o valor de cada um é posta á prova e têm que superar o perigo, que a lide de cada toiro representa. Até porque não existem toiros iguais, tanto na forma de investir ou nos terrenos em que permitem ou devem ser lidados. Pode haver semelhanças pelo tipo de encaste, pelas características que o ganadero imprime á sua ganaderia, mas iguais iguais, os toiros nunca saem. Daí que quando saem á arena tem que haver uma leitura rápida do que temos por diante, temos que perceber o toiro e construir uma lide que vá ao encontro das suas características e ao gosto do público. Daí que por vezes o nosso empenhamento em superar dificuldades, o arriscar…e até o equivocar-nos, porque somos humanos e não somos isentos de falhas, faça com que o acidente aconteça, provocando fracturas e lesões de maior ou menor gravidade. No entanto tenho plena consciênçia que isto é um risco que corro, eu ou qualquer colega, sempre que saímos a tourear. Felizmente que os momentos bons na minha carreira superam largamente esses percalços.” È assim que Joaquim Bastinhas encara um dos riscos que o toureio encerra, um perigo oculto, mas sempre presente, todas as tarde pisa uma arena para tourear.
Joaquim Bastinhas ao longo do quase meio seculo que leva já como toureio, desde que pela primeira vez toureou em público, tem sido um artista, cujo número de apoderados que consigo partilharam cada momento da sua etapa profissional não é extenso. António Carvalho foi o seu primeiro apoderado, nos tempos em que ainda era praticante “ todos os meus apoderados foram importantes! Cada um na sua época e em determinada fase da minha carreira. O António carvalho, o senhor Barradas (José Tello Barradas), o Humberto Pardal, Virgílio Palma Fialho, Fernando Camacho, Rogério Amaro e agora o António Morgado, todos tiveram – e tem - o seu papel a desempenhar. Penso que um apoderado, acima de tudo, tem que estar comigo a cem por cento, defendendo os meus interesses, a minha carreira… a minha confiança. O meio taurino, como em todos os meios artísticos, tem um ambiente muito próprio e a competição passa muitas vezes para além das arenas. Um apoderado tem que ter absoluta confiança em nós, estar atento, saber estar junto das empresas, da comunicação social, estar focado em todos os pormenores dentro e fora das praças…deixar o toureiro liberto de qualquer tipo de preocupações, que não tenham a ver apenas com o tourear. Evidentemente que como toureiro tenho a responsabilidade de justificar em praça e junto do público, a posição que ocupo como figura da tauromaquia. Aliás no toureio para te manteres como figura, ou quando mais jovem, lutas para ocupar e ter essa condição, tens que sair em todas as corridas a dar o teu melhor, senão dificilmente conseguirás destacar-te e para ser apenas mais um não vale a pena! No toureio tens que ter força para estar nos melhores cartéis, ou lutar sempre por isso! Justificando-o frente ao toiro, arriscando, pondo seriedade e risco no teu toureio e claro personalidade e arte. Aliás uma figura do toureio é obrigada ou está pressionada a ombrear com todos e triunfar…só assim mantém e justifica o seu estatuto. Também é verdade e não o nego, que com o passar das temporadas a experiência acumulada, é uma aliada importante para suportar e superar os desafios e a “guerra” ou pressão constante, a que estamos sujeitos de todos os colegas, assim como ao julgamento do público. Não se ganha o respeito e o reconhecimento do público apenas pela idade ou estatuto que se conquistou. Em toureio existem sempre novas metas! Quando assim não sentimos. Quando deixamos de pressionar os outros. Quando nos acomodamos ou pensamos que já fizemos tudo…então nesse momento está na hora de ir para casa! Um toureiro para além de artista é também um guerreiro, como tal, tem de sair á praça sempre mentalizado para vencer, para chegar mais além…impor novas metas a si próprio, ser “taquillero” junto das empresas, ter o público pendente de si…e o apoderado, conforme falávamos tem que estar por dentro de toda essa realidade: conhecer, acompanhar, defender, falar; sentir o seu toureiro.” Com a sua habitual transparência, Joaquim Bastinhas sente a responsabilidade da sua profissão, toda a responsabilidade que é ser figura do toureio ao longo de tantas temporadas e não isenta de responsabilidades todos aqueles que consigo têm estado…” todos têm o seu lugar: bandarilheiros, apoderado, motoristas, tratadores – todos têm que saber o papel que desempenham. Por isso têm que ser e funcionar em equipa. Uma equipa séria, forte e unida!”
As quadrilhas desde sempre foram uma peça importante, na carreira artística de todos os toureiros. Homens que partilham a arena com o seu “chefe de fila” e com ele vivem os momentos de alegria ou não. Conhecem o “seu toureiro” nos mais pequenos e até íntimos pormenores: animo, motivação, perfil, carácter (dentro e fora das praças), hábitos, quadra, sorteios, gostos - enfim um sem número de pormenores, que os tornam muitas vezes um membro mais da família. “Estando sem estar” porque somos nós os protagonistas e quem se expõe perante o grande público, esse quem nos aplaude, julga, quer ver e nos dás força perante as empresas. Dai que sempre coube á minha quadrilha estar muita atenta, muito pendente; “estar ao quite”, atenta ao que (e só) se está a passar na arena quando estou a tourear. Ou seja isto é: entenderem cada passo do toiro, do cavalo, da minta actuação. São toureiros de seda e prata, são toureiros dos “bastidores da lide, são importantes para o toureiro. Ao longo dos anos, sempre escolhi os meus bandarilheiros, por determinados parâmetros. Parâmetros esses, que tivessem muito a ver comigo e com o meu toureio. Um bom bandarilheiro tem que nos entender a 100% até ao mais pequeno detalhe. Tem que saber estar em equipa, pois só assim tudo pode funcionar bem. Sempre gostei de disciplina nas minhas quadrilhas em praça durante as lides. Também sempre gostei de conviver com eles, até porque passam grande parte do seu tempo comigo, nas viagens, nos hotéis, á mesa, nos treinos, na quadra sabendo e conhecendo as características de cada cavalo. Também tenho obrigações para com eles. Não só no plano financeiro. Como humanos, temos também por vezes que escutar os “seus maus momentos” e em muitas ocasiões ter uma palavra amiga um conselho e quando necessário uma advertência também. Em resumo da verdade, eles repartem a sua vida connosco: desde preocupações e alegrias, momentos menos bons e triunfos.” Entre os nomes dos bandarilheiros que fizeram parte das quadrilhas de Joaquim Bastinhas constam nomes como os de: Domingos Gama, Manuel Badajoz, Jorge Marques, Francisco Plirú, Cesar Marinho, Dario Venâncio, Álvaro Catoja, Joaquim Praxedes, Malafaia, João José, João Carlos Chambre, João Carlos “Biscainho”, João Pedro “Juca”, Diogo Ricardo Raimundo, João Prates “Belmonte”, Júlio André e Gonçalo Veloso.
No toureio a cavalo, uma boa quadra é fundamental para a afirmação de um toureiro. Joaquim Bastinhas não foi excepção. Para além da arte que cada toureiro traz consigo, expressá-la no toureio a cavalo, necessita da montada que marque a diferença e se identifique com o cavaleiro e este o sinta, transmitindo todos esses sentimentos e arte ao público. Todas as grandes figuras do toureio, ao longo da sua carreira, encontraram “esses cavalos ou esse cavalo, que o definiram, marcaram e lhe deram a notoriedade junto dos aficionados e do grande público. Joaquim Bastinhas tal como muitos daqueles que frequentam as praças de toiros, não se esquecerem desses “companheiros das arenas e de muitas lides” que marcaram a diferença e proporcionaram, muitos êxitos e alegrias ao cavaleiro de Elvas. Ele também não se esqueceu deles e recorda-os assim: tive seis cavalos que marcaram a minha carreira, não só pela sua qualidade, mas também porque tive a sorte e o engenho de que tivessem surgido no momento certo da minha carreira. O“Guiso” tinha o ferro de meu pai, Sebastião Tenório e foi o meu primeiro cavalo de bandarilhas e o que me deu a conhecer junto do público. Depois o “Trinco" (filho do “Firme”, Andrade e da “Heroína”, ferro Romão Tavares, inteiro, lusitano e com o ferro “Romão Tavares) cimentou-me nos pares de bandarilhas e confirmou-me como toureiro. O “Piropo” (filho do “Piton” ferro Veiga e de uma égua da mesma linha, castanho, lusitano e inteiro) foi sem dúvida o cavalo com que mais toureei, cerca de quatrocentos e picos toiros. Ostentava também o ferro do meu pai e foi sem dúvida, um grande cavalo de receber os toiros. Citava de praça a praça e tinha um sítio, que podia e deixava mandar-me nos toiros, logo no primeiro estado. O “Palmela” (filho do “Emir” e da “Nociva”, castanho, inteiro e com o ferro de D. Pedro Palmela) tinha uma grande qualidade em tudo o que fazia e transcendia-se nos ferros curtos. Foi outro dos cavalos, que me ajudou e destacou como figura do toureio. Quanto ao “Xeque-Mate”, ferro “Pinto Barreiros”, (filho de um cavalo com ferro “Duque de Palmela” e uma égua “Núncio”, baio e castrado) foi um cavalo que utilizei nos curtos e pares de bandarilhas, sendo espectacular e muito exuberante, chegava com facilidade ao público. Já o “Vip” tinha o ferro “Duarte Lopes”, (filho do “Magic Count” e de uma égua peninsular, baio de pelagem e inteiro) destacava-se pela sua beleza própria e natural, assim como, pela forma como sempre atacou os toiros. Para estes cavalos terei sempre uma palavra de apreço e um sentimento de gratidão, assim como alguma nostalgia, por todos aqueles momentos que vivemos juntos… estão e estarão sempre na minha memória enquanto toureiro, fazendo parte integrante de uma equipa e de tempos maravilhosos, que me realizaram e marcam, como toureiro”. Joaquim Bastinhas, que apesar de nunca o querer directamente admitir, quedando-se pelo “talvez”, fez escola com os seus pares de bandarilhas, havendo na actualidade muitos colegas, que incluíram esta sorte do toureio no seu reportório. Uma sorte do toureio a cavalo, que “com Bastinhas renasceu” com novo alento e um outro dinamismo.
Ser figura do toureio acarreta responsabilidades que não terminam apenas na arena no final de cada actuação. “Todos nós temos responsabilidades no nosso quotidiano, ao desenvolver-mos outras actividades paralelas e que complementam a profissão como toureiro, que quanto a mim é a vertente artististica da nossa própria personalidade. Porém a vida estende-se para lá do toureio. Há a família pilar da nossa estabilidade emocional, que contribui e acaba por ser um factor chave para o sucesso como homem e cidadão.” Joaquim Bastinhas no seu dia-a-dia. tem na agricultura a sua outra profissão, esta ancestral herdada do seu pai e avós. Nunca escondeu a sua paixão pelo campo e tudo o que a ele diz respeito, daí ser um agricultor de sucesso, empenhado no desenvolvimento da mesma e nos seus resultados, apoiando-se nas novas tecnologias e meios que a ciência põe á disposição na actualidade, tendo como lema “só inovando e procurando novas soluções, podem surgir e obter resultados melhores. Isso significa avanço e uma melhoria para o sector, refletindo-se não só, na criação de postos de trabalho, mas também na qualificação profissional de quem os desempenha. Daí, quanto a mim ser uma mais-valia também não só para a actividade mas sobretudo para o País, reduzindo as importações e a nossa dependência do estrangeiro em relação a certos produtos. Penso que Portugal, por exemplo no que aos cereais diz respeito pode ser auto-suficiente.”
Os média estão hoje presente no universo diário de todos nós, numa sociedade que no século XXI pretende e é designada, como, “uma ou a nossa aldeia global”. Daí como anteriormente já foi escrito, quando se é uma figura pública, o caso de Joaquim Bastinhas, a sua imagem é seguida, solicitada e exposta para muitos e variados eventos, numa linha transversal a todos os sectores da vida pública. Desde eventos de caracter promocional a benéficos, passando pelo entretenimento e de caracter temático ao seu estatuto como figura do toureio, o Maestro sente também como sua a responsabilidade estar presente : “ se o publico me acarinha e acompanha nas corridas, sinto que quando solicita a minha presença ou o meu apoio, junto dele, fora do âmbito taurino, devo corresponder e estar disponível nesses momentos. Não é só e apenas na praça que devemos corresponder. Um toureiro também tem deveres e integra a vida em sociedade. Quantas vezes, quando posso, também vou ver espetáculos que me despertam interesse e tal como todos, nesses momentos sou e faço parte do público também. Seja qual for a nossa actividade , nunca nos podemos alhear dos outros. Isso é criar um casulo e isolarmo-nos, perdendo a realidade da própria vida e do mundo. Sempre fui uma pessoa disponível para apoiar e contribuir para causas que entendo serem justas. Para partilhar a alegria que considero ser importante na nossa vida. A amargura e o ódio apenas geram infelicidade…guerra, infortúnio. Devemos ser solidários. Devemos cultivar a amizade, partilhar pontos de vista, fomentar o diálogo. Só assim a sociedade, ou as sociedades podem evoluir, tornarem-se culturalmente mais fortes e desenvolvidas. Tenho como um dos meus princípios de vida, que se todos dermos um pouco, mesmo por muito pouco que seja do melhor de nós próprios, o mundo será e evoluirá sempre para melhor.”
Joaquim Bastinhas que leva até ao momento 1717 corridas toureadas como profissional do toureio e 2123 desde que se apresentou em praça ao público, foi nesta temporada de 2014 o centro das atenções da mesma, ao triunfar nos palcos mais importantes da tauromaquia nacional: Campo Pequeno, Santarém, Moita, Alcochete, Portalegre, Elvas, Póvoa de Varzim, Figueira da Foz, entre outras, tendo sido também o cavaleiro que mais toureou com 54 corridas.
Assim, foi alvo de diversas distinções entre as quais a conquista de 11 troféus (Rádio Portalegre, Farpas, Rádio Elvas, Jornal Olé, Tertúlia Tauromáquica de Alagoa, Site Porta dos Sustos, Clube Taurino de Alter do Chão, Tertúlia Tauromáquica Eborense, Blog Aficionados de Portugal, Escola de Toureio Joaquim Gonçalves de Santarém, AEMINIUM de Coimbra) para o cavaleiro triunfador absoluto da temporada.
Também em 2014 à semelhança do acontecido em 2006, em que o seu cavalo "Nilo" ferro Pinto Barreiros, foi premiado como o melhor cavalo de toureio da temporada, também este ano o "Amoroso" ferro "Manuel Teixeira da Silva" da Associação de Criadores do Cavalo Lusitano de Aveiro, recebeu idêntica distinção.
Sebastião Tenório um homem de horizontes infindáveis.
Sebastião Tenório, grande aficionado, não só ao
cavalo, mas também ao toureio, tinha na agricultura o seu modo de vida, sendo a
sua casa agrícola, uma das mais bens sucedidas do concelho de Elvas. Tomando os
destinos da lavoura do “Monte Fangueiros”, cujos produtos eram marcados com o
ferro do S e do T dentro do círculo, com a cruz no topo, simbolizando a sua fé
rigor e honestidade, que em tudo sempre pôs. Diariamente, Sebastião Tenório
dava volta às suas terras, montado a cavalo acompanhado do seu (s) galgo (s),
pelos quais nutria uma enorme paixão – paixão transmitida por seu pai Matias
Tenório, avô de Joaquim Bastinhas, um galgueiro destacado na região raiana e
que a seu tempo, foi também detentor de uma pequena ganadaria de bravo, tendo
lidado algumas novilhadas na antiga praça de toiros de Elvas, Sta. Eulália e
Nisa, ao que consta, sempre em praças de província, da extensa região da
planície alentejana e fronteiriça com Espanha, não sendo assim de estranhar
toda a paixão de Sebastião Tenório, pela tauromaquia.
Sebastião Tenório nasceu em Elvas no dia 3 de
Fevereiro de 1931 e foi nesta cidade que cresceu e ganhou amigos, alguns deles,
acabando mesmo por o acompanhar ao longo da vida. Um desses amigos é o eng.
António Nogueira, referindo-se e descrevendo-o … “Sebastião era um grande
aficionado e tinha um gosto muito particular pelos cavalos. Era atento e observador.
Alberto Barradas, outro dos seus amigos de longa
data, descreve-o numa curta frase, mas que diz muito da personalidade do pai do
Joaquim Manuel: “o Sebastião Tenório primava pela descrição, mas era oportuno nos seus
comentários”.
Sebastião Tenório foi cavaleiro amador, tendo
toureado em 1967 na praça de Santa Eulalia, dividindo cartel com João Augusto
Moura, João Romão e António Nogueira. Também na antiga praça de toiros de
Elvas, na tarde de 23 de Setembro de 1970, frente a reses de João Capaz e Irmãos,
alternou com Fernando D´Amado Aguilar (Cuba), António Amorim (Portalegre), João
A. R. de Moura (Monforte) e a pé o amador Joaquim da Conceição (Cabeço de
Vide), tendo pegado os Amadores de Sousel. Joaquim Pataca, há muito ligado á
casa Bastinhas, afirma: “a sua ilusão pelo toureio redobrou, quando
na temporada de 2000, na praça de toiros da Terrugem, os seus netos debutaram
nas arenas: Marcos Tenório como cavaleiro e Ivan Nabeiro chefiando o G. F. A.
Académicos de Elvas. Se até aí acompanhava sempre o Joaquim Manuel,
desdobrou-se depois muitas vezes, para estar ao lado e presente, quando os
toureiros da casa toureavam!”
Quanto a Joaquim Manuel: “sou toureiro e ao meu pai tudo
devo. Desde o primeiro momento acreditou em mim e foi o meu primeiro apoiante e
a pessoa que sempre mais me incentivou. Foi pai, amigo e companheiro. Foi
exigente daí ter chegado onde cheguei e cada vez que triunfava via no seu
rosto, uma alegria muito própria muito sua, que só um filho consegue entender.
Acredito que em mim, viu a realização de muitos dos seus sonhos como toureiro.
No entanto tudo aquilo que me transmitiu sobre a vida ultrapassa em muito as
arenas. Os valores da família, da palavra, do estar na vida, são o legado mais
valioso que me deixou – assim como aos netos, por quem tinha um carinho, que só
os avôs, sentem e sabem traduzir em sentimentos e atos, muito íntimos.
Recordo-o e estará sempre presente; no meu dia-a-dia, questionando-me por vezes:
como é que o meu pai faria?! Para ele, uma palavra, única e que será sempre a
mesma: OBRIGADO PAI!”
Sebastião Tenório partiu, mas é a ele, que se deve o apelido
toureiríssimo “Bastinhas” o qual ocupa já, um lugar conquistado com mérito, na
história contemporânea do toureio a cavalo. Joaquim, Marcos e Ivan, têm a
responsabilidade e o mérito de o continuar a honrar.