segunda-feira, 23 de julho de 2018

Entrevista a Joaquim Bastinhas registada pelo DN e publicada horas antes do espectáculo...


O regresso de Bastinhas: "Tive fé. Sempre acreditei que voltaria às arenas"

De regresso às arenas quase três anos depois do acidente grave que sofreu, com uma máquina agrícola, Joaquim Bastinhas faz neste sábado a sua primeira corrida desde 2015, no Coliseu Figueirense, na Figueira da Foz.




Voltar às arenas três anos depois de ser forçado a afastar-se é certamente um momento de grande emoção. O que lhe vai na cabeça e na alma? Muito nervosismo?
Acima de tudo é a responsabilidade de voltar a vestir a casaca, pisar a arena, encontrar-me com o público e partilhar cartel com os colegas. Depois, sem dúvida, a emoção de ter vencido uma etapa difícil da minha vida e poder voltar a fazer aquilo de que mais gosto: tourear. Quanto ao nervosismo? Não será bem essa a palavra-chave do momento. Diria antes a emoção de poder partilhar o meu toureio com o público, o qual sempre me apoiou e fez de mim o toureiro que sou e todos conhecem.
Sofrer um acidente assim depois de uma vida na arena - e com uma recuperação lenta e difícil - deve ter sido muito difícil. Temeu não conseguir voltar?
Foram momentos bastantes complicados e obviamente passaram-me muitas coisas pela cabeça. Mas sempre acreditei que mais tarde ou mais cedo voltaria às arenas. Tive no entanto, psicologicamente, de juntar todas as minhas forças. A razão, o querer - acreditei sempre em mim: tive fé!
Esta será uma de muitas corridas que ainda quer fazer? Pretende continuar depois das oito que já tem marcadas para esta temporada?
Enquanto o público estiver comigo, enquanto sentir prazer e desfrutar do toureio, claro que sim. Evidentemente que chegará um dia o momento de despedir-me das arenas, mas nem por isso deixarei de ser toureiro. Aliás, não penso nisso! Há que viver o momento presente, ser positivo e objetivo, para aproveitar todas as oportunidades e pedaços bons que a vida nos vai proporcionando.
Sair ao lado do seu filho é um sonho cumprido? Gosta de ver a família segui-lo?
Sem dúvida! No entanto, a partir do momento em que nos dirigimos para a praça de toiros, o bilhete de identidade fica no quarto do hotel. A família é um pilar da nossa existência. Como diz o ditado popular: "Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher." Não quero com isto estar a gabar-me, mas de facto esta frase espelha bem a importância da família no nosso quotidiano. Os filhos são o nosso "prolongamento", diria mesmo que, por vezes, são eles quem concretiza algo que deixámos para trás, que gostaríamos de ter feito ou que tivesse acontecido e não foi possível. Contudo, nunca desrespeitando também os seus projectos de vida. Enfim, penso que isto resume a importância da família no dia-a-dia de todos nós.
Ser cavaleiro tauromáquico não é uma vida fácil. Teve de abdicar de muita coisa para seguir essa vida?
Para levar com seriedade uma profissão e atingir os melhores resultados, tem de haver trabalho, dedicação e ambição. Ora, estas premissas requerem e exigem uma boa dose de disciplina pessoal, a qual obriga à perda de liberdade, requerendo muita responsabilidade. O toureio, sendo uma profissão exposta ao público e uma arte feita de momentos, não abdica de muito trabalho exigente, diário e muito menos subordinado a um horário ou calendário. É evidente que tive de me privar de algumas coisas inerentes ao normal da idade da juventude, mas por outro lado há o retorno muito positivo que tenho vindo a obter, ao longo da minha carreira e vida pessoal... Só posso dizer que valeu a pena!
Como vê a atual discussão sobre o futuro da tauromaquia, em que os animalistas têm ganho força - ainda que a proposta para acabar com as corridas tenha sido recentemente chumbada...
Num Estado de direito e democrático a tomada de posições radicais é uma "coisa" antinatura. Sem razão pela falta de respeito da cultura, tradição, história e até da dimensão económica da tauromaquia na economia do país. Mais: é por ser também e acima de tudo a negação da opinião, do gosto e do pensamento oposto. É castrador da liberdade individual e coletiva. Felizmente que até ao momento tem havido bom senso da classe politica, poder de argumentação das entidades defensoras da festa e da maioria da sociedade portuguesa.

                                                                                            in DN 20/07/2018