Repeti-lo nunca é demais. Joaquim Bastinhas é o triunfador da temporada 2014. Quer se queira ou não, goste ou não - Bastinhas foi o centro das atenções esta temporada. E para prová-lo os diversos troféus que lhe têm sido atribuidos, pela imprensa, por Tertúlias e diversas entidades do foro tauromáquico, que não deixaram passar em branco actuações como as de Évora, Moita ou Campo Pequeno, numa temporada em que o cavaleiro de Elvas, fazendo o seu périplo habitual pelas praças de toiros do norte ao sul de Portugal e integrando o circuito das chamadas corridas de postin, Joaquim Bastinhas, como se costuma dizer em gíria taurina: - saiu por todas. Saiu a apertar!
Em entrevista conduzida pelo jornalista Marcos Gomez ao jornal "Olé" (edição nº431 de 6 de Novembro) Bastinhas explica o porquê, motivações e a sua forma de encarar o toureio. Transcrevemos aqui partes dessa mesma entrevista:
"Maestro uma temporada extensa, ultrapassando a meia centena de corridas
toureadas, e um sério candidato a ser o toureiro com mais actuações em 2014. Como
é que encara este facto?
Encaro-o como sempre - com muito
profissionalismo, com seriedade para com a profissão que escolhi, e acima de
tudo com muito respeito pelo público. Se toureio muito, é porque também
empresários e empresas mantêm o interesse em contratar o Joaquim Bastinhas para
os seus cartéis, porque leva publico às praças."
"O Joaquim Bastinhas é um toureiro, que com o decorrer das temporadas,
tem alcançado factos notáveis, diria mesmo “tem sido um quebra recordes”.
Completou esta temporada cento e quinze actuações (desde que começou a
tourear), na praça de toiros do Campo Pequeno. É o cavaleiro que mais vezes
toureou numa só temporada nesta praça – onze corridas. É o toureiro que mais
toiros da ganadaria “Murteira Grave” toureou desde sempre…
Olhe são números ou estatísticas
pelas quais nunca me preocupei. No entanto são números reais, e hoje quando
começo a olhar para eles despertam-me um sentimento de satisfação, digo-lhe até
de amor-próprio, face á minha trajectória como toureiro. Quando começamos
sonhamos com a alternativa, com ser figura do toureio…enfim a ambição de todos
nós, em afirmarmo-nos na nossa profissão. Não fui excepção! Senti que para ser
alguém na tauromaquia, tinha que trabalhar muito, ter muita ambição e sobretudo
acreditar nas minhas capacidades, no meu valor. E foi o que fiz. Entreguei-me a
duzentos por cento ao toureio. Estruturei.me mentalmente para o sucesso e
também para as adversidades quando surgissem. Dediquei todo o meu tempo ao
toureio, deixando por vezes outros aspectos da vida e inerentes á idade para
trás. Daí os resultados e os factos irem acontecendo. Já o afirmei em diversas
ocasiões: a profissão de toureiro é linda, mas exige imenso esforço e
dedicação. O triunfo de hoje tem que ter continuidade amanhã. Não podemos ficar
deslumbrados hoje e esquecermo-nos das corridas seguintes. É assim que eu
encaro a profissão e os resultados… são os que todos vocês conhecem."
"Tem toureado em todas as corridas importantes da temporada, e os êxitos
contínuos. No entanto passou também por uma fase em que os sorteios não lhe
correram de feição. No entanto esteve e deu sempre a volta aos toiros. Este
facto pode-se considerar muita rodagem, experiência?
Em primeiro lugar todas as
corridas são importantes! Todos os públicos sem excepção merecem o meu
respeito. Agora existem sim é corridas mais mediáticas que outras. Uma corrida
televisionada é sempre vista por um número maior de pessoas, tal como uma
corrida de feira ou em Lisboa, tem uma projecção e impacto diferente junto dos
meios de comunicação. O ideal é estar bem em todas as corridas, porque isso só
por si, proporciona novos contratos e o contínuo respeito do público. Quanto
aos toiros e aos sorteios… sabe Deus dispõe, o homem põe e o toiro descompõe. Evidentemente
com os anos que levo de toureio e a quantidade de corridas que já somo... mil
setecentas e poucas corridas desde que tirei alternativa é normal que tenha
adquirido um traquejo muito diferente de um colega que leve agora sete, oito,
ou dez anos de alternativa. Por outro lado sempre toureei todo o tipo de
encastes, nunca impus ganadarias, e isso deu-me um saber importante sobre as
características e tipos de toiros. Por exemplo esta temporada já toureei
“Passanhas”, “Vitorinos”, “Benitez Cubero”, “Casquinhas”, “Torre de Onofre”,
“Vale Sorraia”, “Cunhal Patricio”, “Vinhas”, “Santa Maria”, “Dias Coutinho”
“Jorge Carvalho”…”Paulino Cunha e Silva”, “Romão Tenório”, “Lampreias”,
“Sesmarias”… “Espartales”, “Sommers”… e desculpe-me algum ganadeiro se não o
estou a mencionar."
Voltando á tauromaquia. Este ano surgiu com alguns cavalos novos e
sobretudo com o “Amoroso”, teve grandes actuações. Como descobriu este cavalo?
Esse cavalo já cá estava em casa
e era o Marcos que normalmente toureava com ele. Entretanto devido á paragem do
Marcos, comecei a montá-lo e a sair com ele nas corridas e identificámo-nos
plenamente. É um cavalo com muita habilidade, toureiro, que pode com os toiros
e com personalidade; entendemo-nos bem. Mas repare se o “Amoroso” foi
importante, também houve outros cavalos que demonstraram estar num bom momento:
o “Zico” com o qual recebi muitos toiros e por vezes continuou também nos
curtos. Assim de momento, recordo-me de uma grande actuação com ele em Èvora e
em Elvas. Depois o “Cartier” com o ferro da casa, está num momento de
maturidade toureira plena… em Portalegre, Elvas, Lisboa e muitas outras
corridas senti-me muito a gosto com ele. O “Tivoli” como sempre fez uma
excelente temporada, o “Queimadouro”, o “Eneias” também com o ferro da casa, e
que debutou este ano, deu excelentes indicações. Olhe o “Duque”, outro que tem
muitas potencialidades e deu nas vistas. O “Alibi”, o “Conde”, o “Xisto” – a
quadra está a atravessar um bom momento. Mas na realidade o “Amoroso”
salientou-se e as pessoas fixaram-no, sobretudo pelos recentes êxitos nas
corridas com maior projecção e impacto no público e aficionados.
"Falou no Marcos. É pai e ao mesmo tempo colega. Que análise ou opinião…
Como pai evidentemente que me
deixou muito preocupado, como é natural. Em primeiro lugar está a sua saúde,
para além da profissão. Como colega lamento o acidente que sofreu e a
subsequente interrupção da temporada que foi obrigado a fazer. Apesar de todos
nós toureiros saber-mos os riscos que corremos face á nossa profissão, é
complicado quando surge este tipo de situação. Ainda para mais quando se está a
fazer uma boa época. Repare que um toureiro passa os doze meses do ano a
trabalhar, criando expectativas e muita ilusão para enfrentar a temporada, (que
se resume praticamente a quatro meses) e de repente ver-se parado é francamente
aborrecido. E digo-lhe isto com conhecimento de causa. Quando fracturei a perna
em 1997, e ter sido forçado a parar de tourear, apenas pouco mais de duas
semanas, lembro-me bem ainda hoje “ do revoltado que fiquei e as ganas que
tinha em voltar”. Com o Marcos é semelhante: é toureiro. Para o ano regressará
certamente com a garra e a entrega que todos lhe reconhecemos, porque ambição e
vontade tem ele, e de sobra!"
"Maestro; é assim que muitos o tratam…
Isso é uma deferência, um sinal
dos muitos amigos que criei enquanto toureiro, e também o respeito por tudo
aquilo que tenho conquistado no toureio. Obrigado pelo reconhecimento. No
entanto e acima de tudo, para além dos títulos que me queiram atribuir… o Joaquim
Bastinhas é e será sempre toureiro."
"O que lhe falta ainda fazer ou conquistar?
Muito! Sabe a perfeição, a lide
perfeita, a temporada perfeita, o cavalo, estão sempre um ligeiro passo á
frente. Se hoje correu muito bem, amanhã há que tentar estar ainda melhor. Esta
é a ilusão do toureio, a chama, e o que faz com que procuremos sempre a
superação. Não interessa se temos cinco, dez, vinte ou trinta anos de
alternativa. Interessa sim, como já disse, a nossa ambição, o nosso querer, mas
sobretudo uma entrega total, na praça frente ao toiro."
(Joaquim Bastinhas in "Olé" nº 341)