sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Joaquim Bastinhas em entrevista ao "Olé" de 6 de Novembro, edição nº 341

Repeti-lo nunca é demais. Joaquim Bastinhas é o triunfador da temporada 2014. Quer se queira ou não, goste ou não - Bastinhas foi o centro das atenções esta temporada. E para prová-lo os diversos troféus que lhe têm sido atribuidos, pela imprensa, por Tertúlias e diversas entidades do foro tauromáquico, que não deixaram passar em branco actuações como as de Évora, Moita ou Campo Pequeno, numa temporada em que o cavaleiro de Elvas, fazendo o seu périplo habitual pelas praças de toiros do norte ao sul de Portugal e integrando o circuito das chamadas corridas de postin, Joaquim Bastinhas, como se costuma dizer em gíria taurina: - saiu por todas. Saiu a apertar!  


Em entrevista conduzida pelo jornalista Marcos Gomez ao jornal "Olé" (edição nº431 de 6 de Novembro)  Bastinhas explica o porquê, motivações e a sua forma de encarar o toureio. Transcrevemos aqui partes dessa mesma entrevista: 
"Maestro uma temporada extensa, ultrapassando a meia centena de corridas toureadas, e um sério candidato a ser o toureiro com mais actuações em 2014. Como é que encara este facto?
Encaro-o como sempre - com muito profissionalismo, com seriedade para com a profissão que escolhi, e acima de tudo com muito respeito pelo público. Se toureio muito, é porque também empresários e empresas mantêm o interesse em contratar o Joaquim Bastinhas para os seus cartéis, porque leva publico às praças."  


"O Joaquim Bastinhas é um toureiro, que com o decorrer das temporadas, tem alcançado factos notáveis, diria mesmo “tem sido um quebra recordes”. Completou esta temporada cento e quinze actuações (desde que começou a tourear), na praça de toiros do Campo Pequeno. É o cavaleiro que mais vezes toureou numa só temporada nesta praça – onze corridas. É o toureiro que mais toiros da ganadaria “Murteira Grave” toureou desde sempre…
Olhe são números ou estatísticas pelas quais nunca me preocupei. No entanto são números reais, e hoje quando começo a olhar para eles despertam-me um sentimento de satisfação, digo-lhe até de amor-próprio, face á minha trajectória como toureiro. Quando começamos sonhamos com a alternativa, com ser figura do toureio…enfim a ambição de todos nós, em afirmarmo-nos na nossa profissão. Não fui excepção! Senti que para ser alguém na tauromaquia, tinha que trabalhar muito, ter muita ambição e sobretudo acreditar nas minhas capacidades, no meu valor. E foi o que fiz. Entreguei-me a duzentos por cento ao toureio. Estruturei.me mentalmente para o sucesso e também para as adversidades quando surgissem. Dediquei todo o meu tempo ao toureio, deixando por vezes outros aspectos da vida e inerentes á idade para trás. Daí os resultados e os factos irem acontecendo. Já o afirmei em diversas ocasiões: a profissão de toureiro é linda, mas exige imenso esforço e dedicação. O triunfo de hoje tem que ter continuidade amanhã. Não podemos ficar deslumbrados hoje e esquecermo-nos das corridas seguintes. É assim que eu encaro a profissão e os resultados… são os que todos vocês conhecem."


"Tem toureado em todas as corridas importantes da temporada, e os êxitos contínuos. No entanto passou também por uma fase em que os sorteios não lhe correram de feição. No entanto esteve e deu sempre a volta aos toiros. Este facto pode-se considerar muita rodagem, experiência?
Em primeiro lugar todas as corridas são importantes! Todos os públicos sem excepção merecem o meu respeito. Agora existem sim é corridas mais mediáticas que outras. Uma corrida televisionada é sempre vista por um número maior de pessoas, tal como uma corrida de feira ou em Lisboa, tem uma projecção e impacto diferente junto dos meios de comunicação. O ideal é estar bem em todas as corridas, porque isso só por si, proporciona novos contratos e o contínuo respeito do público. Quanto aos toiros e aos sorteios… sabe Deus dispõe, o homem põe e o toiro descompõe. Evidentemente com os anos que levo de toureio e a quantidade de corridas que já somo... mil setecentas e poucas corridas desde que tirei alternativa é normal que tenha adquirido um traquejo muito diferente de um colega que leve agora sete, oito, ou dez anos de alternativa. Por outro lado sempre toureei todo o tipo de encastes, nunca impus ganadarias, e isso deu-me um saber importante sobre as características e tipos de toiros. Por exemplo esta temporada já toureei “Passanhas”, “Vitorinos”, “Benitez Cubero”, “Casquinhas”, “Torre de Onofre”, “Vale Sorraia”, “Cunhal Patricio”, “Vinhas”, “Santa Maria”, “Dias Coutinho” “Jorge Carvalho”…”Paulino Cunha e Silva”, “Romão Tenório”, “Lampreias”, “Sesmarias”… “Espartales”, “Sommers”… e desculpe-me algum ganadeiro se não o estou a mencionar."


Voltando á tauromaquia. Este ano surgiu com alguns cavalos novos e sobretudo com o “Amoroso”, teve grandes actuações. Como descobriu este cavalo?
Esse cavalo já cá estava em casa e era o Marcos que normalmente toureava com ele. Entretanto devido á paragem do Marcos, comecei a montá-lo e a sair com ele nas corridas e identificámo-nos plenamente. É um cavalo com muita habilidade, toureiro, que pode com os toiros e com personalidade; entendemo-nos bem. Mas repare se o “Amoroso” foi importante, também houve outros cavalos que demonstraram estar num bom momento: o “Zico” com o qual recebi muitos toiros e por vezes continuou também nos curtos. Assim de momento, recordo-me de uma grande actuação com ele em Èvora e em Elvas. Depois o “Cartier” com o ferro da casa, está num momento de maturidade toureira plena… em Portalegre, Elvas, Lisboa e muitas outras corridas senti-me muito a gosto com ele. O “Tivoli” como sempre fez uma excelente temporada, o “Queimadouro”, o “Eneias” também com o ferro da casa, e que debutou este ano, deu excelentes indicações. Olhe o “Duque”, outro que tem muitas potencialidades e deu nas vistas. O “Alibi”, o “Conde”, o “Xisto” – a quadra está a atravessar um bom momento. Mas na realidade o “Amoroso” salientou-se e as pessoas fixaram-no, sobretudo pelos recentes êxitos nas corridas com maior projecção e impacto no público e aficionados.


"Falou no Marcos. É pai e ao mesmo tempo colega. Que análise ou opinião…
Como pai evidentemente que me deixou muito preocupado, como é natural. Em primeiro lugar está a sua saúde, para além da profissão. Como colega lamento o acidente que sofreu e a subsequente interrupção da temporada que foi obrigado a fazer. Apesar de todos nós toureiros saber-mos os riscos que corremos face á nossa profissão, é complicado quando surge este tipo de situação. Ainda para mais quando se está a fazer uma boa época. Repare que um toureiro passa os doze meses do ano a trabalhar, criando expectativas e muita ilusão para enfrentar a temporada, (que se resume praticamente a quatro meses) e de repente ver-se parado é francamente aborrecido. E digo-lhe isto com conhecimento de causa. Quando fracturei a perna em 1997, e ter sido forçado a parar de tourear, apenas pouco mais de duas semanas, lembro-me bem ainda hoje “ do revoltado que fiquei e as ganas que tinha em voltar”. Com o Marcos é semelhante: é toureiro. Para o ano regressará certamente com a garra e a entrega que todos lhe reconhecemos, porque ambição e vontade tem ele, e de sobra!"


"Maestro; é assim que muitos o tratam…
Isso é uma deferência, um sinal dos muitos amigos que criei enquanto toureiro, e também o respeito por tudo aquilo que tenho conquistado no toureio. Obrigado pelo reconhecimento. No entanto e acima de tudo, para além dos títulos que me queiram atribuir… o Joaquim Bastinhas é e será sempre toureiro."


"O que lhe falta ainda fazer ou conquistar?
Muito! Sabe a perfeição, a lide perfeita, a temporada perfeita, o cavalo, estão sempre um ligeiro passo á frente. Se hoje correu muito bem, amanhã há que tentar estar ainda melhor. Esta é a ilusão do toureio, a chama, e o que faz com que procuremos sempre a superação. Não interessa se temos cinco, dez, vinte ou trinta anos de alternativa. Interessa sim, como já disse, a nossa ambição, o nosso querer, mas sobretudo uma entrega total, na praça frente ao toiro."


(Joaquim Bastinhas in "Olé" nº 341)