"De regresso da Moita do Ribatejo, onde tive ensejo de o rever,
entendi dirigir-lhe esta missiva, directamente relacionada com a prestação
levada a cabo na “Daniel do Nascimento “. Impõe-se, liminarmente, evidenciar que estava em causa uma corrida
de grande responsabilidade. Desde logo, naquela localidade e arredores respira-se afición
quanto baste, região de aficionados de solera, para quem o toiro e o
cavalo não têm segredos. Depois, porque o curro a lidar era dos herdeiros do Dr. António
Silva, matéria-prima que fez as delícias da minha juventude pela seriedade
evidenciada, impondo respeito nas arenas a cavaleiros, seus auxiliares e moços
de forcado e cujas características estão presentes nas camadas disponibilizadas
ano após ano, responsáveis primeiras pela comparência de quem, de outra forma,
dificilmente se deslocaria, pela inexistência de afinidades de qualquer ordem
com os demais intervenientes. Pois o Marcos Tenório, prestes a terminar uma temporada em que
foram muitos e bons os triunfos arrecadados, na linha, de resto, do que
ocorrera no ano anterior, em que ia embalado na altura do acidente que lhe
interrompeu a curva ascendente que caracterizava então a sua trajectória, chegou
à corrida do fogareiro com as ganas habituais, totalmente disposto a discutir
com os seus pares quem saía da praça em plano vitorioso. Não podemos tomar posição em tal matéria porque se não viu o
espectáculo até final. Ainda assim, refiro gostosamente quanto saboreei ver o DANONE
dobrar-se uma vez mais com o oponente, em alarde de domínio e preparação, para,
de seguida, serem cravados dois certeiros ferros compridos. No trânsito para os
curtos, o Marcos sacou o AMOROSO, que lhe proporcionou brega de elevado nível,
a anteceder a ferragem da ordem, sempre conformemente às regras. Cumprida que
assim se mostrava a função, por imperativos de toreria, em nome do muito
respeito que em Vossa Casa existe para com o público, procedeu a nova troca de
montadas, indo buscar o ELLORA, da coudelaria de sua Mãe, para, plenamente
sintonizado com a assistência, a quem, aliás, deu a possibilidade de escolha,
cravar um par de bandarilhas nos médios, onde tudo pesa pelo máximo, no meio de
indescritível entusiasmo popular. Não admira assim que haja quem o siga amiúde,
indiferente a distâncias, doenças, preço dos combustíveis, custo de refeições e
auto-estradas e à circunstância de as touradas serem diurnas ou nocturnas,
sendo que em tal legião gostosamente me incluo. Aqui tem o jovem toureiro o que
se me ofereceu dizer depois do que vi na última vez em que nos cruzámos,
restando o Campo Pequeno para uma apreciação final, com a antecipada
expectativa de que lhe seja possível colocar a cereja em cima do bolo
comemorativo das genuínas actuações que logrou ao longo de 2015.
VAZ CRAVEIRO."