O Maestro Joaquim Bastinhas deslocou-se ontem á Radio Iris, em Samora Correia, a convite de Maurício do Vale, para o habitual programa taurino de todas as terças-feiras. Um programa que acabou por se tornar numa conversa sobre tauromaquia e onde o cavaleiro de Elvas, revelou uma vez mais muito de si - da sua personalidade, não escondendo as dificuldades dos seus inícios...
" conduzi muitas vezes o camião pelas estradas da província da estremadura espanhola - se não fosse assim nunca teria aprendido a conduzir um pesado (sorriso)... quando na realidade se tem valor acaba sempre por se romper! Pode demorar mais, mas acaba-se sempre por conquistar o lugar... recordo-me que quando tirei a prova de praticante em 1979 na praça de toiros de Vila Viçosa, fui comprar a minha primeira casaca para envergar nessa corrida. Só que acabei por comprar uma branca, em segunda mão, que na época custou vinte contos. Não era a que eu gostava, mas foi a que a carteira aguentava.,, "
e com a abertura e frontalidade que lhe é característica Joaquim Bastinhas continuou: "o meu pai trazia uma herdade de renda. Não nos faltava nada. Mas também não podíamos; ou melhor não devíamos esbanjar. O meu pai era um homem extremamente orientado, com uma aficion tremenda, e fez tudo para que eu pudesse realizar o meu sonho, que afinal era também a materialização do seu. Reviu-se em mim. Apoiou-me desde a primeira hora e nunca duvidou que iria ser toureiro... historias algumas - lembro-me do meu primeiro camion dos cavalos. Era uma Renault e levava dois. Impossível transportar mais, quando chegava a uma subida, lá ia lentamente, em segunda: o problema era quando chegava-mos ao fim dessa ladeira e queria mudar de velocidade. Mais do que uma vez regressei a casa em "segunda"; para não falar da água que ela consumia e dos garrafões com agua que tinha de transportar na cabine...
foram momentos duros, no entanto hoje quando olho para trás, sinto-me recompensado de todo o esforço e entrega que dediquei - e dedico á minha profissão... nunca escondi os meus princípios... sim vendi alguns cavalos que na altura eram importantes na minha quadra, porque entendia que era uma forma de contribuir, ajudar, ou compensar o meu pai por tudo o que ele fazia por mim. Ele era um bom equitador e as pessoas procuravam comprar-lhe alguns cavalos, mas nunca ele procurou que, ou disse para, eu vender algum cavalo. O importante para ele foi sempre a minha carreira..." Muito foi dito ontem. Uma vez mais Joaquim Bastinhas falou de si, da carreira abordando o tema de maneira diferente, revelando sentimentos e opiniões até agora raramente partilhados com alguns. Foi um Maestro desinibido, cristalino, mas sobretudo independente, seguro das suas afirmações, ciente da importância de todos os seus registos, de todos os seus actos ao longo das ultimas três décadas de vida, para além do toureio.
Mas ao longo das duas horas de emissão Joaquim Bastinhas, apesar de ter sido o protagonista principal desta emissão, houve mais convidados a enriquecer a emissão da Rádio IRIS FM e ao telefone esteve outro toureiro: Marcos Tenorio Bastinhas. Mauricio do Vale deu o tema e colocou as questões. Marcos reafirmou uma vez mais todas as expectativas e confiança que deposita na sua reaparição nas arenas. Falou do seu dia a dia, da sua preparação para enfrentar a temporada e da quadra. Um tema e outros mais a abordar muito em breve, com o mais jovem dos cavaleiros de Elvas. Fica a promessa.
