segunda-feira, 12 de janeiro de 2015


Por vezes, falamos dos homens dos seus feitos - triunfos, distinções: fama e glória. Também em tauromaquia, a moeda tem duas faces, como em muitas outras artes, onde os dois F´s, de fama e fracasso, coabitam e conjugam a sorte, a fortuna e o esplendor. "Diz-se que "a sorte somos nós que a fazemos. Quando passa o trén há que aproveitar, montar-se nele e não o perder; aproveitá-lo. Raramente passa segunda vez!" Assim pensa o cavaleiro de Elvas - "e não me tenho dado mal com esta minha ideia". Também por vezes questionado por alguns amigos mais chegados, admirados por o maestro estar a montar no picadeiro, ou na praçita a lidar uma bezerra, tendo triunfado na véspera, a razão ou a resposta sai espontânea, tal como o próprio toureiro: "não toureio amanhã, mas toureio para a semana." Se por um lado esta forma de estar na vida, acaba por ser inerente á própria personalidade do toureiro, no entanto não surge do nada, ou ao acaso. Por trás de um grande artista, existe sempre alguém que o encaminha, " soltando-o depois, deixando-o voar e recriar-se, na inspiração da sua liberdade, asas de uma arte que encerram a magia e a glória, de um toureio puro, pessoal, mas ao mesmo tempo universal. Joaquim Bastinhas teve consigo, essa preciosíssima quimera tão rara, de seu nome Sebastião Tenório. Bastinhas é toureiro por inteiro, tal como seu pai foi aficionado, e ambos iniciaram uma historia que se perpétua já na continuidade de Bastinhas para Bastinhas, isto é: Joaquim e Marcos.





È sobre Sebastião Tenório, o apontamento de hoje no vosso blog. Algumas palavras, algumas recordações... enfim recordamos uma infima parte do homem e da obra transmitida oralmente por alguns dos seus amigos de sempre.







Sebastião Tenório, grande aficionado, não só ao cavalo, mas também ao toureio, tinha na agricultura o seu modo de vida, sendo a sua casa agrícola, uma das mais bens sucedidas do concelho de Elvas. Tomando os destinos da lavoura do “Monte Fangueiros”, cujos produtos eram marcados com o ferro do S e do T dentro do círculo, com a cruz no topo, simbolizando a sua fé rigor e honestidade, que em tudo sempre pôs. Diariamente, Sebastião Tenório dava volta às suas terras, montado a cavalo acompanhado do seu (s) galgo (s), pelos quais nutria uma enorme paixão – paixão transmitida por seu pai Matias Tenório, avô de Joaquim Bastinhas, um galgueiro destacado na região raiana e que a seu tempo, foi também detentor de uma pequena ganadaria de bravo, tendo lidado algumas novilhadas na antiga praça de toiros de Elvas, Sta. Eulália e Nisa, ao que consta, sempre em praças de província, da extensa região da planície alentejana e fronteiriça com Espanha, não sendo assim de estranhar toda a paixão de Sebastião Tenório, pela tauromaquia.Sebastião Tenório nasceu em Elvas no dia 3 de Fevereiro de 1931 e foi nesta cidade que cresceu e ganhou amigos, alguns deles, acabando mesmo por o acompanhar ao longo da vida. Um desses amigos é o eng. António Nogueira, referindo-se e descrevendo-o …“Sebastião era um grande aficionado e tinha um gosto muito particular pelos cavalos. Era atento e observador.Alberto Barradas, outro dos seus amigos de longa data, descreve-o numa curta frase, mas que diz muito da personalidade do pai do Joaquim Manuel: “o Sebastião Tenório primava pela descrição, mas era oportuno nos seus comentários”.Sebastião Tenório foi cavaleiro amador, tendo toureado em 1967 na praça de Santa Eulalia, dividindo cartel com João Augusto Moura, João Romão e António Nogueira. Também na antiga praça de toiros de Elvas, na tarde de 23 de Setembro de 1970, frente a reses de João Capaz e Irmãos, alternou com Fernando D´Amado Aguilar (Cuba), António Amorim (Portalegre), João A. R. de Moura (Monforte) e a pé o amador Joaquim da Conceição (Cabeço de Vide), tendo pegado os Amadores de Sousel. Joaquim Pataca, há muito ligado á casa Bastinhas, afirma: “a sua ilusão pelo toureio redobrou, quando na temporada de 2000, na praça de toiros da Terrugem, os seus netos debutaram nas arenas: Marcos Tenório como cavaleiro e Ivan Nabeiro chefiando o G. F. A. Académicos de Elvas. Se até aí acompanhava sempre o Joaquim Manuel, desdobrou-se depois muitas vezes, para estar ao lado e presente, quando os toureiros da casa toureavam!”Quanto a Joaquim Manuel: “sou toureiro e ao meu pai tudo devo. Desde o primeiro momento acreditou em mim e foi o meu primeiro apoiante e a pessoa que sempre mais me incentivou. Foi pai, amigo e companheiro. Foi exigente daí ter chegado onde cheguei e cada vez que triunfava via no seu rosto, uma alegria muito própria muito sua, que só um filho consegue entender. Acredito que em mim, viu a realização de muitos dos seus sonhos como toureiro. No entanto tudo aquilo que me transmitiu sobre a vida ultrapassa em muito as arenas. Os valores da família, da palavra, do estar na vida, são o legado mais valioso que me deixou – assim como aos netos, por quem tinha um carinho, que só os avôs, sentem e sabem traduzir em sentimentos e atos, muito íntimos. Recordo-o e estará sempre presente; no meu dia-a-dia, questionando-me por vezes: como é que o meu pai faria?! Para ele, uma palavra, única e que será sempre a mesma: OBRIGADO PAI!”Sebastião Tenório partiu, mas é a ele, que se deve o apelido toureiríssimo “Bastinhas” o qual ocupa já, um lugar conquistado com mérito, na história contemporânea do toureio a cavalo. Joaquim, Marcos e Ivan, têm a responsabilidade e o mérito de o continuar a honrar.